Uma série, em particular, ganha destaque em seu trabalho: Photos-Souvenirs, na qual recria a partir de imagens de seu acervo familiar. Carolle Benitah começou a se interessar por suas fotos de família quando estava folheando um álbum de fotografias e percebeu-se tomada de uma emoção cuja origem não sabia definir. As fotografias haviam sido tiradas 40 anos antes e Carolle não conseguia se lembrar dos momentos em que foram realizadas, nem o que precedeu ou seguiu-se a esses momentos.
Para dar início a esta tarefa, Carolle realizou algumas “escavações”. Como uma arqueóloga, a fotógrafa desenterrou dos álbuns de família as imagens nas quais estava presente e encheu caixas de sapato com elas. A fotógrafa deu prioridade aos instantâneos, devido à sua fragilidade perante a passagem do tempo e à sua relação com a memória e a perda.
As fotografias da série Photos-Souvenirs são fragmentos do passado de Carolle reinterpretados, partindo de uma perspectiva subjetiva, tomados como confissões. As imagens foram ordenadas, classificadas, digitalizadas e depois impressas. A autora não faz intervenções diretamente na imagem original, ela transpõe essa realidade para um papel diferente. Às vezes, recorta um detalhe que lhe chama a atenção e escolhe o novo formato. O trabalho de interpretação fotográfica tem início com estas etapas.
Uma vez feitas as escolhas de imagem, Carolle começa a contar sua versão da história. Sua atenção se volta para o seu próprio passado, com 40 anos de distanciamento e as experiências de vida que mudaram sua percepção sobre os eventos.
A próxima etapa é o trabalho manual, de adição de bordados e grânulos. O bordado está intimamente ligado ao meio em que a fotógrafa cresceu. Quando criança, garotas de boas famílias tinham que aprender a costurar e bordar. Este era um requisito que fazia parte das qualidades da “mulher perfeita”.
Lançando mão da função decorativa desta atividade, a fotógrafa elabora, na série Photos-Souvenirs, uma reinterpretação de sua própria história e expõe suas falhas. Cada furo da agulha no papel é um passo para a morte de seus demônios. Como em uma espécie de exorcismo, até que não sofra mais.