Conheça Carolle Benitah

Nov 5 / Julia Salustiano
As séries fotógraficas da marroquina Carolle Benitah podem ser consideradas uma espécie de foto-diários, os quais abrem portas para um mundo que, de outra forma, estaria fechado para estranhos.

O reino particular da autora é um objeto abordado com frequência, não havendo distinção de privilégio entre acontecimentos inofensivos do cotidiano ou eventos trágicos.

Assim, convivem em seu portfólio tanto imagens que retratam sua relação com seu filho quanto séries como Self-Portrait in red curtain, composta por auto-retratos da fotógrafa realizados em um período de doença.
Uma série, em particular, ganha destaque em seu trabalho: Photos-Souvenirs, na qual recria a partir de imagens de seu acervo familiar. Carolle Benitah começou a se interessar por suas fotos de família quando estava folheando um álbum de fotografias e percebeu-se tomada de uma emoção cuja origem não sabia definir. As fotografias haviam sido tiradas 40 anos antes e Carolle não conseguia se lembrar dos momentos em que foram realizadas, nem o que precedeu ou seguiu-se a esses momentos.
Para dar início a esta tarefa, Carolle realizou algumas “escavações”. Como uma arqueóloga, a fotógrafa desenterrou dos álbuns de família as imagens nas quais estava presente e encheu caixas de sapato com elas. A fotógrafa deu prioridade aos instantâneos, devido à sua fragilidade perante a passagem do tempo e à sua relação com a memória e a perda.

As fotografias da série Photos-Souvenirs são fragmentos do passado de Carolle reinterpretados, partindo de uma perspectiva subjetiva, tomados como confissões. As imagens foram ordenadas, classificadas, digitalizadas e depois impressas. A autora não faz intervenções diretamente na imagem original, ela transpõe essa realidade para um papel diferente. Às vezes, recorta um detalhe que lhe chama a atenção e escolhe o novo formato. O trabalho de interpretação fotográfica tem início com estas etapas.
Uma vez feitas as escolhas de imagem, Carolle começa a contar sua versão da história. Sua atenção se volta para o seu próprio passado, com 40 anos de distanciamento e as experiências de vida que mudaram sua percepção sobre os eventos.

A próxima etapa é o trabalho manual, de adição de bordados e grânulos. O bordado está intimamente ligado ao meio em que a fotógrafa cresceu. Quando criança, garotas de boas famílias tinham que aprender a costurar e bordar. Este era um requisito que fazia parte das qualidades da “mulher perfeita”.

Lançando mão da função decorativa desta atividade, a fotógrafa elabora, na série Photos-Souvenirs, uma reinterpretação de sua própria história e expõe suas falhas. Cada furo da agulha no papel é um passo para a morte de seus demônios. Como em uma espécie de exorcismo, até que não sofra mais.

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